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Este estudo investiga as paisagens sonoras na peça Salvador, de Egberto Gismonti, a partir da análise comparativa de cinco gravações lançadas entre os anos 1969 e 1989, explorando as relações entre a obra e seus contextos culturais. A abordagem metodológica integra três perspectivas: as paisagens sonoras (Schafer, 1977; Truax, 2001), tópicos musicais (Salles,2016) e teoria dos gestos musicais (Hatten, 2004). Lançada em 1969, Salvador surge na discografia de Egberto Gismonti, a partir da influência dos afro-sambas do guitarrista e compositor brasileiro Baden Powell (1937-2000). Apesar de a peça apresentar diferentes formações instrumentais, nos cinco fonogramas aqui analisados o violão, por vezes de seis, oito ou dez cordas, mantém-se como protagonista na condução do discurso musical.
Neste trabalho, também se faz necessário observar o processo de reelaboração composicional ocorrido na obra ao longo de vinte anos. Acreditamos que este tipo de transformação pode auxiliar na identificação de elementos musicais significativos para a constituição da peça, assim como os contextos, para além dos sons, que foram determinantes para a criação. No intuito de compreender acerca das relações existentes entre a música e os diversos tipos de espaços e ambientes que nos cercam, ou que vivenciamos, adotamos uma perspectiva que, conforme Ingold (2011), aponta o som como um meio para a nossa percepção, considerando o potencial comunicativo que este pode ter, especialmente se relacionado a um sujeito, a um espaço físico e à uma comunidade onde se insere. Buscamos interrelacionar conceitos a partir da identificação de tópicas afro-brasileiras presentes na estrutura musical, especificamente as tópicas canto de xangô e berimbau, que, juntamente com a presença do samba, em Salvador, caracterizam-se a partir da performance ao violão. Analisamos as tópicas e as construções de paisagens sonoras considerando as suas características gerais, a forma como se inserem na música e as diferentes relações com os contextos socioculturais. Com base na análise podemos ter, hierarquicamente, em termos de uma perspectiva mais ampla para uma mais específica, três âmbitos de representação: o samba, caracterizando o âmbito nacional; a tópica canto de xangô, referenciando a cultura afro-brasileira; e a tópica berimbau, aludindo à capoeira, uma manifestação específica que integra esta cultura. Portanto, a partir da audição dos fonogramas, análise musical e de entrevistas concedidas por Gismonti, identificamos, contextualizamos e discutimos as diferentes formas de representação de ambientes sonoros que, de algum modo, fazem referência a manifestações da cultura afro-brasileira representativas da cidade de Salvador e da cultura da Região Nordeste do Brasil.
Palavras-chave: paisagens sonoras; tópicas afro-brasileiras; Egberto Gismonti; Salvador.
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