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Este trabalho busca explorar a aplicação da teoria das tópicas musicais na análise da produção artística do guitarrista Nelson Faria, buscando identificar a presença da Tópica Nordestina na obra do guitarrista. A abordagem teórica das tópicas musicais, amplamente discutida por estudiosos como Leonard G. Ratner (1980), Kofi Agawu (1991) e Robert S. Hatten (2004) tem sido utilizada como uma metodologia de análise retórica, inicialmente voltada para o repertório da música europeia ocidental, especialmente nas obras dos períodos barroco, clássico e romântico. Agawu (1991) aponta que a música clássica europeia, sobretudo entre os anos de 1770 e 1830, era intencionalmente projetada para se comunicar com o público, unificando expressão e estrutura dentro de convenções retóricas musicais. Um exemplo notável citado por Agawu (1991) é o uso do estilo “alla turca” por Mozart na ópera Die Entführung aus dem Serail (1782). Nesse contexto, mesmo diante de uma cena em que a personagem expressa fúria, o estilo introduz um tom cômico, estabelecendo uma conexão com o público por meio de códigos culturais compartilhados. Tal uso reflete o domínio de Mozart sobre esses códigos extramusicais e sua habilidade técnica para produzir o efeito desejado (Bastos; Piedade, 2007, p. 2).
O pesquisador Acácio T. Piedade tem ampliado essa abordagem para o estudo de repertórios de música popular, com ênfase em gêneros como a música instrumental brasileira e o jazz brasileiro (Piedade, 2005a, 2005b, 2007, 2011). Seu objetivo é promover uma análise musicológica identificando novas tópicas neste contexto, que também contemple os aspectos históricos e socioculturais característicos da música popular, considerando sua natureza amplamente heterogênea.
Paralelamente ao referencial metodológico supracitado, a presente pesquisa utiliza parcialmente o modelo de análise musicológica de música popular proposto por Phillip Tagg (1987, 2003, 2013). Tal modelo inclui a comparação de objetos musicais, a construção de uma lista de verificação de parâmetros musicais com base em um enfoque estruturalista e formalista, além do conceito de “musema”, que corresponde a uma unidade mínima de significação musical, podendo ser representada por uma figura rítmica, um timbre, uma textura ou um gesto. Esses recursos têm nos auxiliado na delimitação de novas tópicas dentro do repertório de Nelson Faria.
Por meio de análises de trechos transcritos de improvisações e composições de Nelson Faria, foi possível identificar algumas tópicas já descritas por Bastos e Piedade (2007), como a Tópica Nordestina por exemplo. Portanto, nossa ênfase com a presente comunicação é apresentar a ocorrência da Tópica Nordestina no repertório de Nelson, buscando apontar através da análise musicológica de que forma essa tópica aparece em sua obra, estudando quais aspectos musicais poderiam ser indicadores (musemas) da presença da musicalidade nordestina para configurar a tópica. Buscamos dessa forma, contribuir com o debate musicológico da área da música popular.
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