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Este resumo aborda a escrita do baixo contínuo nas obras dos compositores Luís Álvares Pinto (1719-1789), de Pernambuco, e José Maurício Nunes Garcia (1767-1830), do Rio de Janeiro. Luís Álvares Pinto estudou em Lisboa, e sua obra musical revela uma técnica de escrita ligada à de seus contemporâneos portugueses. José Maurício Nunes Garcia, por sua vez, não esteve em Portugal, e sua escrita musical apresenta diferenças quando comparada à de seu predecessor.
O baixo contínuo foi uma forma composicional muito difundida na Europa durante os séculos XVII e XVIII. Para sua realização, o compositor escrevia a melodia e o baixo, sendo que este era tocado em um ou mais instrumentos de contínuo, geralmente reforçado por um instrumento de apoio. Acima das notas do baixo, o executante do instrumento de tecla ou o alaudista introduzia os acordes convenientes, cujas notas não eram escritas.
Na obra Tibis Omnes, pertencente à composição Te Deum Laudamus, de Luís Álvares Pinto, encontra-se uma escrita de baixo contínuo na qual não há indicação de cifragem; já na clave musical, não se encontram sinais de alteração. Isso reflete uma prática antiga, ligada ao modelo dos motetos sacros e à tradição contrapontística, ainda em voga em Portugal naquele período. No manuscrito restaurado e editado pelo padre Jaime Diniz, o fragmento estudado aparece escrito para coro a quatro vozes (soprano, contralto, tenor e baixo), com duas linhas de trompa e uma escrita de baixo, disposição típica do Barroco europeu.
Já a obra Dies Sanctificatus (1793), de José Maurício Nunes Garcia, é organizada a partir de uma introdução de oito compassos. Em seguida, há uma estrutura de ligação instrumental que conecta as duas partes do grupo vocal, seguindo de uma coda e integrando-se à arquitetura da obra. É uma composição unitária em que se apresenta somente um decorrer musical; pode-se afirmar, assim, que a obra possui um conceito uniforme, pois tem um sentido único atribuído a si. A partitura vocal deste gradual foi escrita para coro a quatro vozes (soprano, contralto, tenor e baixo), com orquestra de cordas, duas trompas e uma escrita para baixo contínuo.
Nota-se, portanto, que existe uma escrita de baixo contínuo para coro nas duas obras em questão, no entanto, elas diferem: enquanto Luís Álvares Pinto insere somente as notas, sem marcar os acidentes musicais nas claves, José Maurício Nunes Garcia marca as notas do baixo contínuo e insere a marcação das cifragens para sua realização. Outra incidência reconhecida é a prática antiga de marcar, na escrita, o baixo contínuo e colocá-lo acima das notas, e não abaixo delas.
Assim, apesar de serem de gerações próximas, percebemos práticas de escrita diferentes entre os dois compositores brasileiros. Luís Álvares Pinto liga-se a práticas comuns em Portugal por volta do século XVIII, enquanto José Maurício Nunes Garcia prenuncia, em terras brasileiras, o estilo “rococó” ou “galante” e seus derivativos.
Palavras-chave: Luís Álvares Pinto; José Maurício Nunes Garcia; baixo contínuo.
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