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Description
Desde 1957, a criação musical assistida por computadores tem evoluído significativamente. Nos últimos anos, a inteligência artificial (IA) emergiu como uma ferramenta proeminente na produção de arte e música, integrando-se cada vez mais à indústria fonográfica global, especialmente a partir de 2018. Essa integração tem suscitado debates sobre ética, direitos autorais e o papel das culturas musicais e de seus criadores. Uma preocupação central no uso da IA para a criação musical é o possível desaparecimento da diversidade cultural no cenário global (Comitê Gestor da Internet no Brasil, 2022). Isso se deve à escassez de dados representativos de diferentes culturas para o treinamento das máquinas, o que pode levar à homogeneização das produções musicais. Além disso, questiona-se por que dados culturais estão disponíveis publicamente e são utilizados gratuitamente para o treinamento de máquinas, enquanto o produto artístico resultante é comercializado, com direitos autorais e intelectuais atribuídos a uma máquina ou aos seus respectivos desenvolvedores (Comitê Gestor da Internet no Brasil, 2022). Nesse contexto, é importante considerar países do Sul Global, como o Brasil, que possui uma das expressões musicais mais diversas do mundo. A indústria fonográfica brasileira é reconhecida como uma das maiores no cenário global (De Marchi, 2006). As raízes da música brasileira estão na cultura popular, com destaque para as influências africanas, afro-brasileiras e para a região Nordeste, considerada o berço de uma cultura autenticamente brasileira (Andrade, 2020; Santos, 2023). No entanto, no contexto nacional, a região Nordeste do Brasil enfrenta uma dinâmica de poder em que o Sudeste ocupa uma posição hierárquica de destaque. Com a IA potencialmente dominando a produção musical global, é crucial refletir sobre o lugar da música brasileira e nordestina, sobre o lugar dessas culturas musicais e de seus povos. Afinal, a música, além de organizar hierarquias de ordem política e individual, constrói e organiza memórias coletivas e individuais (Stokes, 1997). Portanto, a discussão sobre música popular midiática e massiva, sobre música e tecnologia, também implica uma compreensão cultural e estudos de patrimonialização e sustentabilidade do patrimônio, levantando questões epistemológicas e ontológicas. Estudiosos da criatividade computacional, musicólogos e compositores já apontam para a importância e urgência de estudos sobre música e IA sob uma perspectiva fundamentada nas Ciências Humanas e na própria arte (Caramiaux, Donnarumma 2022; Bown 2022). Dessa forma, este trabalho tem como objetivo discutir as implicações e aplicações da IA na criação musical, a partir de uma perspectiva da música do Nordeste do Brasil.
Palavras-chave: Criação musical e IA; Música e tecnologia; Música popular; Música brasileira; Cultura do Nordeste do Brasil
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