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Neste texto, são discutidos aspectos do trabalho investigativo e documental do musicólogo Jaime Diniz. O nosso objetivo é averiguar se e sob que limites podemos considerá-lo exemplo representativo de (e também recurso para) uma musicologia feita a partir de fragmentos (Cf. Lucas, 2000; Blanco, 2007). Para cumprir esse propósito, articulamos referenciais ligados à micro-história e seus usos e implicações possíveis no campo da pesquisa musicológica à luz de alguns dos princípios e regras metodológicas apresentadas por Bruno Latour em seu estudo sobre a Ciência em ação (2011). Esperamos, com isso, construir um aparato crítico que ajude a refletir sobre os manuscritos musicológicos do Acervo Padre Jaime Diniz como recursos em potencial para o desenvolvimento da musicologia local e regional nos dias atuais, consideradas as suas diversas conexões possíveis com outras redes de informação de interesse musicológico. É possível afirmar o caráter ainda hoje disperso e fragmentário das fontes para a investigação histórico-musical em Pernambuco e na Bahia, por exemplo, e na região Nordeste em geral, sobretudo ao recuarmos as análises para o século XVIII ou mesmo para inícios do XIX. Diniz trabalhava consciente de tais limitações documentais. Parte do seu arquivo, que consiste em fichas, cadernos e pastas com diversos materiais e apontamentos de pesquisa, indica uma disposição no sentido de enfrentar essas limitações com os recursos intelectuais e sociais de que dispunha. O escrutínio dessa documentação musicológica possibilitará: 1) recuperar, estabelecer e estruturar redes de relações informacionais sobre músicos cujas trajetórias e sociabilidades vinham sendo estudadas pelo musicólogo e; 2) conduzir a uma reflexão sobre as condições objetivas e caminhos metodológicos percorridos por ele enquanto construía um repertório documental subsidiário às suas pesquisas (e a outras futuras) – passo importante para a construção de histórias da musicologia no Brasil. Na esteira desses dois escopos complementares, o presente trabalho se realiza na interface entre as pesquisas em andamento dos seus autores, ambas hoje formalizadas em cursos de doutorado, cujos objetivos são: a) compreender o ofício da música e as alteridades sonoro-musicais em Pernambuco ao longo do setecentos a partir de um reestudo de fontes documentais (Oliveira) e; b) historicizar as práticas de pesquisa de Jaime Diniz relacionadas ao seu propósito de publicação de um quarto volume da obra Músicos Pernambucanos do Passado (Marques). Acreditamos que estudos históricos sobre musicólogas e musicólogos que emergem e atuam em contextos social e cientificamente periféricos e sobre suas redes, inclinações, escolhas e práticas investigativas, aliados a ações de preservação, processamento técnico e acessibilização dos acervos musicais de maneira integrada, abrem caminhos para formularmos interpretações científicas menos assimétricas e enviesadas e mais respeitosas, inclusivas e conectadas com a diversidade cultural e musical que caracteriza o país.
Palavras-chave: Musicologia de fragmentos; Práticas de investigação musicológica; Documentação musicológica; Diniz, Jaime Cavalcanti, 1924-1989; Acervo Padre Jaime Diniz.
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