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Entre os anos de 1907 e 1941, o deslocamento de músicos nordestinos para o Rio de Janeiro foi uma parte significativa do fluxo migratório de artistas que, provavelmente, buscavam melhores oportunidades de trabalho e desenvolvimento artístico na capital brasileira. Com base nas Fichas de Matrícula encontradas no fundo documental do Sindicato dos Músicos do Estado do Rio de Janeiro, foi possível identificar nesse período 294 músicos filiados como Fundadores ou Contribuintes do Centro Musical do Rio de Janeiro (CMRJ), instituição que em 1941 viria a se tornar Syndicato de Músicos Profissionaes do Rio de Janeiro, hoje Sindicato dos Músicos do Estado do Rio de Janeiro. Desses 294 músicos, 225 eram brasileiros, e destes, aproximadamente 13% tinham suas origens na região Nordeste do país. De acordo com as Fichas, os estados de Pernambuco, Bahia, Alagoas, Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte, Sergipe e Maranhão foram as origens desses músicos nordestinos que se deslocaram para o Rio de Janeiro, com destaque para Pernambuco e Bahia, que juntos enviaram a maior parte desses artistas. Vale destacar que, entre os nomes encontrados nas Fichas de Matrícula, apenas uma mulher foi registrada: a cantora Maria Antonietta Rodrigues de Oliveira, natural da Bahia. Observamos ainda o músico pernambucano Pedro de Assis como um dos sócios fundadores do Centro Musical do Rio de Janeiro, instituição que se destaca como uma das primeiras a buscar a regulamentação do trabalho musical no Brasil.
Em outro tipo de documento pertencente ao mesmo fundo, as Propostas de Admissão ao CMRJ, encontramos um total de 120 músicos oriundos da região nordeste no mesmo período, contemplando todos os Estados nordestinos com exceção do Piauí. Desses, temos, a exemplo das Fichas de Matrícula, uma minoria feminina e um destaque para os estados de Pernambuco e Bahia. Por meio desses documentos pudemos observar os instrumentos musicais declarados por cada músico como seu instrumento de trabalho, e o ano de 1933 como o de maior incidência da busca de músicos nordestinos pela filiação ao Centro Musical.
É possível inferir que o fenômeno migratório dos músicos nordestinos para o Rio de Janeiro reflete não apenas o dinamismo cultural da capital fluminense, mas também as dificuldades enfrentadas nas regiões de origem desses músicos, que, possivelmente, buscavam no sudeste melhores condições de vida e trabalho. A cidade do Rio de Janeiro, sendo um importante polo cultural, concentrava as principais oportunidades para músicos profissionais, especialmente em atividades ligadas ao teatro de revista, ao rádio e às gravadoras que começavam a se estabelecer.
A presente proposta busca, a partir das Fichas de Matrícula e das Proposta de Admissão ao Centro Musical do Rio de Janeiro, documentos oriundos do fundo documental do Sindicato dos Músicos do Estado do Rio de Janeiro, apresentar vestígios da atuação musical de músicos migrantes nordestinos junto ao CMRJ e, supostamente, na vida cultural fluminense.
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