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Description
O poema musical, que constitui a música de um povo ou de uma comunidade étnica reunida em um território em torno de sua arte, é o sensível musical (sonoro) articulado em formas próprias. É esta articulação sonora e seu sentido que o melófilo capta, vive e experimenta seu sentido como expressão de uma comunidade étnica, isto é, uma expressão que lhe advém como pertencente à comunidade. Pois a expressão musical tem a forma dos modos como a comunidade canta, toca, ouve e dança sua música, não importando se esses modos sejam formalizados matematicamente por análise ou não, apesar de serem passíveis disso. Foi no esforço pela compreensão desse sentido musical articulado que muitos eruditos e compositores brasileiros e de outros países procuraram desenvolver uma etnomusicologia, no intuito de poder elaborar uma música nacional (assim se dizia) enraizada nas formas próprias que o povo e as comunidades do território nacional espontaneamente ou “naturalmente” exprimiam em sua arte popular, numa espécie de descoberta e custódia dos fios melódicos típicos de uma tradição.Quando falamos de forma, não estamos aqui já pensando esse conceito relacionado à música no mesmo sentido daquele que é compreendido por Schönberg em seu livro Sobre a Composição. Talvez pudéssemos falar de forma elementar, que caracteriza o que ele denomina motivo e tema. Essas formas-motivo, que podem se constituir em temas, ou já estarem dados na arte de comunidades artísticas populares como temas constituídos nesse âmbito, tornaram-se, no Brasil, objeto de uma pesquisa etno-musicológica significativa. Expoentes fundamentais desse trabalho no Brasil foram Mário de Andrade, João Baptista Siqueira e José de Lima Siqueira. Estes últimos, os irmãos Siqueira, foram não somente teóricos, mas sobretudo gênios musicais. Neste excurso vamos nos dedicar a pensar especificamente o trabalho desenvolvido por João Baptista Siqueira e José Siqueira. Que a música assuma formas e significados históricos e territoriais próprios é algo que já desde muito tempo musicólogos em toda parte do mundo defendem. Como pensar filosoficamente, porém, o modo como essa articulação topo-epocal do sentido musical se constituiu através desses intérpretes teóricos e músicos eruditos do Nordeste do Brasil? Responder a essa questão a partir de uma análise do trabalho teórico musical dos irmãos Siqueira é o intuito desta comunicação.
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