21–23 May 2025
Centro de Artes e Comunicação e Instituto Ricardo Brennand
America/Recife timezone

Na Estrada das Areias de Ouro: reflexos do ciclo aurífero (e sua decadência) na canção de Elomar Figueira Mello

21 May 2025, 16:25
20m
Comunicação Comunicações (geral) Comunicações

Speakers

Mr Frederick Moraes Luís Antônio Santos Vilalva (IA/UNICAMP)

Description

Compositor de um importante cancioneiro, Elomar Figueira Mello (1937-) tematiza em sua obra a vida do catingueiro, tendo por recorte geográfico o Sertão da Ressaca, região cuja formação histórica remonta aos contextos do ciclo do gado e do ouro no século XVIII, sendo ela uma zona de intersecção entre duas áreas de intensa exploração aurífera: as Minas Gerais e a Chapada Diamantina. Natural de Vitória da Conquista-BA, Elomar descende diretamente do sertanista João Gonçalves da Costa, principal agente nos processos de fundação da cidade e desbravamento do Sertão da Ressaca. Os reflexos desse extenso processo histórico e o imaginário coletivo que o envolve encontram-se representados em suas canções, seja através do tropeirismo e do resgate da história de algumas de suas figuras regionais (como o Tropeiro Gonsalin e Quilimero), seja pela referência a mitos e lendas que envolvem a exploração de ouro nas regiões circunvizinhas. Exemplo deste segundo caso é a canção Na Estrada das Areias de Ouro, do álbum Das Barrancas do Rio Gavião (1973). Nela o eu-lírico conta histórias por ele ouvidas sobre uma “Sinhazinha” cuja alma “encantada” vaga por estradas de areias de ouro, guardando o ouro de seu pai, antigo senhor de engenho.
Partindo dessa canção, investigamos como o processo de formação histórica do Sertão da Ressaca no contexto do ciclo do ouro se reflete no imaginário expresso no cancioneiro de Elomar. Para tanto, experimentamos analisar elementos tanto literários como musicais da canção por meios semelhantes àqueles utilizados por Lévi-Strauss em sua análise estrutural de mitos (2017[1958]; 2004[1964]; 2011[1971]). Com isso, notamos como Sinhazinha ocupa, na canção, uma função mediadora entre a escassez (do Sertão e dos dias atuais) e a riqueza (do ouro e de um passado remoto). A obra expõe de partida uma imagem (as “areias de ouro”) conciliadora da oposição entre a areia (símbolo da aridez) e o ouro (riqueza); apresenta as mulheres dos antigos fidalgos como ricas, mas como subordinadas (elas são listadas entre suas posses, junto às riquezas e aos escravizados); apresenta Sinhazinha como mediadora entre um passado rico (em que ela viveu) e o presente escasso (em que ela vaga “encantada”); e associa-a precisamente às areias de ouro (por onde ela vaga). Em um plano musical, é notável: como as “areias de ouro” são recorrentemente associadas a um acorde não triádico, que concilia a tríade tônica (Mi maior) com seu II grau (Fá# e sua quinta, Dó#, no registro mais grave); e como as modulações de Mi maior para Sol# menor são introduzidas sempre por um acorde de Mi menor, ao mesmo tempo remoto (pois não é uma tríade do campo de Sol# menor) e presente (pois, enarmonizado o Sol como Fá, todas as suas notas encontram-se na menor harmônica de Sol#). Constatamos, assim, como aspectos da história do Sertão da Ressaca ganham expressão, em Elomar, em uma profusão de imagens distintas (e nem sempre óbvias) e como traços intrinsecamente musicais da canção parecem espelhar o mitismo que faz de sua obra tamanha riqueza do sertão contemporâneo.

Palavras-chave: Elomar Figueira Mello; Canção; Análise estrutural; Sertão da Ressaca; Ciclo do ouro.

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