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O presente artigo investiga, identifica e mapeia, a partir do uso da Teoria da Gestalt, as influências de características do Movimento Armorial presentes na obra para piano Ponta-de-Pedras da Suíte das águas paraibucanas do compositor contemporâneo brasileiro Beetholven Cunha (1978), com o objetivo de auxiliar de que forma essas influências podem ser salientadas na prática interpretativa. Cunha possui influências da Música Armorial, conceito que, conforme afirma Nóbrega (2007), idealizava a inserção da cultura popular nordestina dentro da chamada “Arte erudita” e se utilizava do recurso da adaptação timbrística entre os instrumentos típicos dessas manifestações aos instrumentos tradicionais da tradição eurocêntrica.Santos (2017) sugere que o que se observa atualmente a respeito do movimento se definiria como a presença de “Ecos Armoriais”. Beetholven Cunha não se identifica como um compositor exclusivamente armorial e afirma que a influência do movimento em sua obra ocorre “de maneira natural e espontânea, sendo inclusive mesclada com outras características próprias de sua formação e de suas vivências”(CUNHA, 2024).
Ainda que o Movimento Armorial não tenha incluído o piano em sua origem, é possível identificar importantes elementos do movimento na escrita pianística. Utilizando o trabalho Música Armorial da pesquisadora Ariana Perazzo da Nóbrega como referencial teórico, é possível identificar tais características adaptadas ao repertório pianístico: uso do modalismo; presença de melodias curtas com repetição de fragmentos; uso da “nota rebatida” (semicolcheias ligadas de duas em duas); deslocamento de acentos; forte reincidência de semicolcheias; figuras rítmicas anacrústicas e acéfalas; uso da nota pedal; presença de ostinatos e a busca de um timbre estridente e percussivo (Nóbrega, 2007).
Como procedimentos metodológicos, foi realizada uma Pesquisa Histórica acerca das raízes culturais do Movimento Armorial bem como a posterior análise da transposição de elementos culturais, presentes nessa manifestação cultural, para o repertório pianístico. Foi utilizada como ferramenta analítica a Teoria da Gestalt, teoria advinda da Psicologia Experimental no início do século XX.
A Teoria da Gestalt dedica-se ao estudo da percepção da forma, possibilitando o entendimento estrutural do objeto a partir do todo, gerando uma conexão organizada entre os elementos. Seus princípios básicos são: Unidade, Segregação, Unificação, Fechamento, Continuidade, Semelhança, Proximidade e Pregnância da Forma (FIORINI; MORAIS, 2018). A aplicação dos princípios gestálticos na música se dá através da identificação das relações de textura, densidade, timbre, dinâmica, melodia, ritmo, harmonias e motivos e podem ser aplicados em qualquer tipo de música, pois independe de questões estéticas, históricas e extramusicais (FALCÓN, 2011, p. 50).
Conclui-se que a busca pelas raízes culturais nordestinas presentes na obra em questão corrobora com o conceito de “Ecos armoriais” presentes na contemporaneidade. A partir do uso de princípios da Teoria da Gestalt, esses elementos foram identificados para, assim, auxiliar na concepção performática e no realce das características armoriais, a partir de indicações de execução que nem sempre estão grafadas na partitura. Espera-se que esse estudo contribua para futuras pesquisas sobre o assunto e traga sugestões e apontamentos para a performance pianística a partir do viés etnomusicológico e idiomático presentes dentro da manifestação culturais regionais e folclóricas.
Palavras - chave: Musicologia Histórica; Música Nordestina; Movimento Armorial; Teoria da Gestalt.
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